A poesia de Tulio Rodrigues não rende tributos a grandes epopeias, personagens célebres, trajetórias definitivas ou coisa que o valha. Antes disso, ela bebe na fonte que, cotidianamente, mata a sede das mulheres e homens comuns e versa sobre aquilo que, no fim das contas, dá sentido a tantas vidas: a mulher amada, o amor de mãe, o malabarista do sinal, o time de futebol, a fé nos orixás, os mistérios do tempo, a rua.
Expressos em formas poéticas que privilegiam o ritmo e a sonoridade – como os sonetos e sextilhas – os versos de Tulio tecem impressões sobre aquilo que compõe a tessitura que vai desenhando a vida como uma peça musical: sonhamos, amamos, gritamos gol, cultivamos nossas manias, divinizamos os homens, humanizamos os deuses, recomeçamos de novo a cada manhã.
Ao chegar ao final da leitura desses fragmentos poéticos, imaginei que a missão maior da poesia é mais simples do que parece: ela opera em uma dimensão que ritualiza o dia a dia e se inscreve na carne da palavra – e ela, a palavra, eventualmente sangra.
Não sou rubro-negro como o autor do livro, mas partilho daquela impressão que Albert Camus teve a respeito do futebol – um simples jogo pode condensar a infinitude dos dramas humanos e tem uma dimensão pedagógica insuspeita. A mesma coisa pode ser dita sobre a poesia e a capacidade que ela tem de nos colocar diante de um aparente paradoxo: não há espanto maior do que aquele que se revela diante do que é extraordinariamente comum.
Luiz Antonio Simas